Encontro com Einstein
Sabe Albert, quando te vi sentado aí, nesse banco, às margens do Acaraú, lembrei do que disseste sobre o luminoso céu do Brasil, esse mesmo que agora adorna tua cabeleira cansada pelo tempo mas rejuvenescida por tantas idéias à frente de tua época. Sim, lembrei do tempo, eterno mistério que tanto desvendaste. Também da luz, que iluminou o mundo com tuas teorias. E neste espaço restrito onde ora nos encontramos, relembro o céu daquele vinte e nove de maio, o outro de cem anos antes e que é o mesmo, cem anos, um segundo, não são diferentes no tempo cósmico. Naquele dia o Sol desviou a luz e ficamos mais próximos de entender a aparência da realidade. Imagino tua satisfação hoje se soubesses dessa comemoração pelo eclipse de Sobral, tua vaidade legítima por ter sistematizado teorias revolucionárias a partir de tuas próprias descobertas e de outros eminentes cientistas e matemáticos que conheceste , que tão bem compreendeste e reconheceste deles o valor, em teus escritos. Mas uma vaidade contida por tua simplicidade e humildade peculiares aos gênios que se importam com a humanidade.
Sim, lembro também, com igual atenção, de tua sensibilidade para com todos os seres humanos, indistintamente de geografia ou quaisquer outros aspectos, de tua luta pela paz mundial, tua indignação perante o extermínio de pessoas e povos pelos mais variados motivos, inclusive e principalmente, com utilização da ciência que ajudaste a construir.
Tento perceber algumas dessas tuas reações, na massa antropomórfica diante de mim agora, que fito nos olhos, mas estás imóvel, como se o tempo houvesse paralisado teus movimentos devido à velocidade de teus pensamentos. Depois concluo que já não precisas de teu corpo, pois te multiplicaste em energia nos labirintos de criações que te sucederam, na explosão de idéias novas que aumentaram teu brilho, no espectro das retrações e expansões cíclicas de vida e morte do universo.
O que me comove em tua figura sutil e poderosa é essa síntese de tanta grandeza em tamanha simplicidade. Aqui, à beira do rio, te saúdo e agradeço, pela excelência e generosidade que distribuíste sem parcimônia. A memória representa nosso tesouro mais duradouro, apesar de efêmero, como tudo. Imortaliza o perecível e compacta o tempo no gerúndio do espaço virtual de nossas mentes. Pelo menos até nosso planeta se tornar um pálido ponto branco, nos tornarmos novamente “poeira das estrelas” e algo novo surgir do caótico mundo da criação. E quem sabe, um novo ser parecido contigo estará presente. Está escrito! No oceano das probabilidades. Por enquanto, estás irremediavelmente em nós!
Texto de Paulo Roberto Carvalho de Almeida
Professor (não-físico nem matemático) da Universidade Federal do Ceará
Amante de Pessoas, do Cosmos, da Vida , da Arte e das Probabilidades
Sobral, 29 de Maio de 2019
Sobre Einstein em Sobral:
O texto acima refere-se à escultura do cientista Albert Einstein, encomendada pela Prefeitura de Sobral em virtude das comemorações dos 100 anos do eclipse que forneceu evidências reais da Teoria da Relatividade. A obra foi instalada em uma das margens do rio Acaraú em Sobral-CE. A peça, moldada em argila e fundida em bronze, é de autoria do artista Murilo Sá Toledo. Com cerca de 130 quilos, a escultura de Einstein reproduz famosa foto de Reginald Donahue que capturou o cientista no verão de 1939 em Long Island (EUA).
Fonte da imagem: Prefeitura Municipal de Sobral