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Conheça o outorgado com a primeira Medalha Rubens de Azevedo de Divulgação Científica

Data de publicação: 29 de outubro de 2021. Categoria: eventos, Medalha Rubens de Azevedo, notícias

Na data de hoje, 29 de outubro de 2021, a Seara da Ciência anuncia a outorga da primeira Medalha Rubens de Azevedo de Divulgação Científica. O texto abaixo revela o homenageado.

O Físico e o Poeta

O ano era 1972. O local era o Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Nomes como César Camargo Mariano, Júlio Medaglia, Joaquim Roberto Freire, Sérgio Cabral e Nara Leão compunham comissão para seleção de músicas que concorriam no VII Festival Internacional da Canção Popular, o último dos grandes festivais de música transmitidos em rede nacional pela TV. Dentre as 1.912 inscritas, a comissão selecionou 30 canções, cujos autores ou intérpretes virariam ícones na história da Música Popular Brasileira. Ednardo, Belchior, Alceu Valença, Raul Seixas, Renato Teixeira eram alguns nomes até então desconhecidos do grande público. Naquele evento também surgiu um jovem talento chamado Raimundo Fagner que, na primeira semifinal, cantou a música Quatro Graus.

— Ei, mas essa conversa não é para falar do ganhador da medalha Rubens de Azevedo de Divulgação Científica? — Perguntou-me um interlocutor.

— Sim, é. — Respondi.

— E você vem com essa de Festival Internacional da Canção?! — Retrucou novamente.

— É que essa música faz a gente também falar de divulgação científica. Além de Fagner, a música teve outro autor: Dedé Evangelista, hoje homenageado com a medalha. Quis o destino que a letra dessa parceria acabasse por se tornar praticamente uma autobiografia do homenageado. Ela começa assim:

Céu de vidro azul fumaça
Quatro Graus de latitude
Rua estreita, praia e praça
Minha arena e ataúde

Dedé Evangelista

Dedé Evangelista é o cognome de José Evangelista de Carvalho Moreira, Engenheiro Civil oriundo da primeira turma de engenheiros da Escola de Engenharia da UFC em 1960. Leitor voraz, dono de amplo conhecimento e cultura, dedicou-se ao ensino das ciências ao longo de sua trajetória. Pelas radiações do espectro visível, incentivou professores de Física de escolas públicas a construírem utensílios simples e acessíveis para que seus alunos aprendessem em demonstrações práticas o que é o espalhamento de luz e o porquê de o céu ser azul.

 

Tendo o Ceará – sua terra – como arena, também se dedicou ao desenvolvimento da Astronomia local. Participou da estruturação do Museu do Eclipse na cidade de Sobral. Fundou o Clube de Ciência no Departamento de Física, embrião do que viria a ser a Seara da Ciência, sendo um dos autores do projeto que ali fincou as fundações do Observatório Astronômico Ferruccio Ginelli. Estrutura única na UFC, o observatório hoje instiga a curiosidade de muitos infantes em aventuras telescópicas pelas infinitas esquinas do espaço sideral. Talvez seja a serra de Mulungu em seus quatro graus de latitude a fonte de seu benfazer.

E a música segue:

Não permita Deus que eu morra
Sem sair desse lugar
Sem que um dia eu vá embora
Pra depois poder voltar

Dedé (à esquerda) e seu orientador Knudsen na Dinamarca (Foto de 1986).

Rendido em sua vocação acadêmica, bateu asas e foi rumo à América do Norte para em Física tornar-se Mestre na Universidade de Illinois, em 1964. Alguns anos mais tarde, foi a vez da europeia Copenhagen abrigá-lo para, em 1975, concluir o Doutorado sob orientação de Jens Martin Knudsen, cientista que morou em Brasília no início dos anos 1970 e, ao observar o solo vermelho brasileiro, elaborou a teoria de que a cor vermelha de Marte poderia ter sido também causada pela presença prévia de água que interagiu com ferro do solo. Os trabalhos realizados em Copenhagen com o doutorando Evangelista em espectroscopia Mössbauer certamente deram suporte para tornar Knudsen o homem que ligou a Dinamarca à NASA e à pesquisa internacional do planeta Marte por meio da participação nas missões Mars Pathfinder e Mars Exploration Rovers.

Como na canção, fez tudo pra depois poder voltar. De volta, atiçado pelas experiências d’além-mar, Evangelista buscou tornar a física e outras ciências assuntos mais próximos para estudantes e pessoas ao seu redor.  Simultaneamente às atividades de ensino no Departamento de Física da UFC, onde lecionou na graduação e na pós-graduação o efeito Mössbauer e a espectroscopia Raman, inclusive para vários dos atuais docentes daquele setor, passou a desenvolver suas habilidades de divulgador científico.

Quando quase ninguém conhecia direito o que era Internet, Evangelista foi um dos primeiros na UFC a dominar a linguagem HTML e, assim, passou a atuar também no campo virtual ao desenvolver e manter por longos anos a página do Departamento de Física da UFC, com seção destinada à Divulgação Científica. Posteriormente, assumiu essa tarefa junto à página da Seara da Ciência. Muitos alunos externos à UFC, principalmente os da educação básica, foram beneficiados. Especialmente durante os períodos escolares, os registros de acesso diário aos bancos de dados das páginas por ele mantidas revelavam-se aos milhares com incessantes buscas por conteúdos científicos da Dona Fifi.

Seminários de temas científicos, oficinas de ciências, realização de feiras de ciência, estabelecimento das Olimpíadas de Física no Ceará foram outras atividades que tiveram Evangelista como executor. Até os dias atuais, são projetos de sucesso que animam as rotinas de professores e alunos. Manteve a coluna quinzenal Aqui tem Ciência publicada no Jornal O Povo por alguns anos. Como se isso fosse pouco, escreveu peças para teatro, todas disponíveis no repertório da Seara da Ciência. Estas serviram como a força motriz que permitiu a cultura do Teatro Científico, interface acadêmica entre ciência e arte, atualmente uma das meninas dos olhos da Seara da Ciência.

Finalmente, Evangelista e sua trupe formada por Marcus Vale, Maria Alcione Chagas, Cleuton Freire, Yaci Mendonça, Maria Bethania Montenegro, dentre outros, nos deixaram a Seara da Ciência como herança. Alçou o mais alto grau da docência como Professor Titular de Física e, mesmo após sua aposentadoria junto à UFC, continuou a atuar na Seara da Ciência por muitos anos – e ainda atua – dando-nos liberdade suficiente para que, além de toda sua envergadura acadêmica, seja visto simplesmente como o nosso querido Dedé. Assim como na letra da música, a trajetória de Dedé também enseja que, ao fim e ao cabo, a vida acadêmica nos permita finalmente cantarolar…

Quero um dia ter saudade
Desse canto que eu cantei
E chorar se der vontade
De voltar pra quem deixei


 

Informações adicionais:

Quatro Graus, música de autoria de Fagner e Dedé Evangelista.

Fagner, Maria Alcina e Belchior fotografados durante o festival em 1972 (Fonte: blog de Marcia Weber)

Vídeo com Maria Alcina interpretando a música vencedora do Festival Internacional da Canção em 1972.

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