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Universidade Federal do Ceará
Seara da Ciência

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Metabolismo do Álcool

A importância do tira-gosto para o fígado do biriteiro.

Prof. Marcus Vale – Seara da Ciência – UFC.

Nosso corpo é uma máquina química. Isto é, ele funciona retirando energia das ligações químicas dos alimentos por meio de inúmeras e eficientes reações bioquímicas. Os alimentos são nossos combustíveis e nosso corpo é capaz de absorver e armazenar esses combustíveis na forma de polímeros para utilizá-los na medida de nossas necessidades.
Esse conjunto de reações é o que se costuma chamar de metabolismo.

A seguir, vamos falar de um caso de grande interesse para quem toma umas e outras de vez em quando, ou para quem toma mais do que a conta: o metabolismo do álcool.

Saúde.

Os alimentos energéticos e como a energia é armazenada.

Os principais tipos de alimentos energéticos são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. O carboidrato mais importante em termos energéticos é o açúcar glicose. Esse açúcar é utilizado por todos os tecidos de nosso corpo para produzir energia e é armazenado na forma de glicogênio, ou glicose polimerizada.

Já a gordura é armazenada no tecido adiposo em forma de triglicerídeo (três ácidos graxos ligados à molécula de glicerol). O triglicerídeo, terror dos anoréxicos e hipocondríacos, possui alta carga energética que, entretanto, só é usada em situações especiais, como durante um exercício físico ou quando estamos em jejum prolongado.

O sistema nervoso e as células vermelhas do sangue não podem utilizar a gordura como fonte de energia, utilizando somente a glicose. Além disso, não têm capacidade de armazená-la e dependem da glicose que circula pelo sangue. Como veremos a seguir, quem cumpre essa função de armazenamento e distribuição é o órgão mais ligado ao biriteiro: o fígado.

O fígado e o metabolismo do álcool.

O fígado é o principal órgão de armazenamento e distribuição da glicose sendo, portanto, fundamental para o sistema nervoso. Qualquer falha nessa distribuição (a chamada “hipoglicemia”) afeta imediatamente o cérebro e pode resultar em efeitos extremamente desagradáveis. Quando a gente não se alimenta normalmente, os níveis de glicogênio hepático diminuem ou até desaparecem, mas a glicose continua sendo fabricada pelo fígado, a partir das proteínas dos músculos. Por isso, emagrecemos. Esse processo chama-se gliconeogênese. Entretanto, ele pode ser inibido pela ingestão exagerada de álcool (etanol) e gerar um quadro de coma por hipoglicemia. É aí que começa o problema do biriteiro.

Quando uma bebida alcoólica é ingerida, parte do álcool é absorvida pela mucosa estomacal, mas, a maior parte entra na corrente sanguínea através do intestino delgado. O álcool é muito solúvel em água e, portanto, distribui-se rapidamente pelo sangue para todo o corpo. Uma dose de 25 ml de uísque, que contém em torno de 10 ml de etanol (7,8 g), ao ser ingerida por uma pessoa de 70 kg, resulta em uma concentração final em torno de 0,01 % de álcool no sangue.

Esse álcool é removido do sangue por meio da oxidação no fígado. Um pequena quantidade de álcoll não é metabolizada e pode ser expelida pela respiração, pelo suor ou pela urina. É quando o biriteiro leva seu bafo de onça para o banheiro.
Como veremos a seguir, a resistência aos efeitos do álcool variam muito, de pessoa a pessoa.

Fatores que afetam a absorção do álcool. Homens e mulheres na mesa do bar.

A taxa de metabolismo do álcool depende, em parte, da quantidade de enzimas especializadas do fígado, que varia entre as pessoas. Em geral, após a ingestão, o álcool atinge um pico de concentração sanguínea dentro de 30 a 45 minutos. O álcool é metabolizado mais lentamente do que é absorvido. Portanto, se o consumo não for controlado ocorrerá acúmulo tóxico no corpo.

Se a taxa de ingestão de etanol for igual à sua taxa de oxidação, a concentração sanguínea não aumenta. A taxa de eliminação do etanol em um homem de 70 kg é aproximadamente 15 g (cerca de 20 ml) de etanol por hora, o que corresponde a 340 ml de cerveja ou 170 ml de vinho ou, ainda, a 45 ml de licor forte.

Uma série de fatores influencia o processo de absorção do álcool pelo organismo. Beber depois uma refeição contendo gorduras, proteínas e carboidratos diminui em três vezes a velocidade de absorção do álcool, quando comparado a uma situação de consumo com o estômago vazio.

As mulheres metabolizam o álcool mais lentamente que os homens e, consequentemente, apresentam uma concentração de álcool no sangue mais elevada após consumo da mesma quantidade de bebida. Além disso, são mais suscetíveis a doenças hepáticas, musculares, cardíacas e cerebrais causadas pelo consumo excessivo de bebidas alcóolicas. Essa diferença entre os sexos é atribuída a uma menor quantidade de água no organismo feminino e a uma atividade mais baixa das enzimas metabolizantes do álcool no fígado.

Efeitos do álcool sobre o organismo. Como saber quando parar.

O álcool afeta o sistema nervoso central. Seus efeitos sobre o comportamento resultam de sua ação direta sobre esse sistema e, como conseqüência, sobre músculos e sentidos. Dependendo da dose, o álcool é uma droga depressora. Tanto pode ser um tranquilizante suave como um anestésico geral. Entretanto, à medida que sua concentração aumenta, surge a supressão de algumas funções do sistema nervoso e aparecem os sintomas clássicos da intoxicação.

Determinou-se que a maioria dos indivíduos começa a mostrar falhas mentais mensuráveis quando a concentração de etanol no sangue atinge cerca de 0,05 %. Ao atingir 0,10 %, os efeitos mentais já produzem sinais físicos óbvios, como marcha desequilibrada, percepções sensoriais perturbadas e inabilidade de reagir com rapidez. Nesse estágio, já é perigoso dirigir veículos. A fala confusa aparece com a concentração em torno de 0,15 % e a inconsciência é produzida por volta de 0,4 %. Acima de 0,5 %, o centro respiratório do cérebro ou o trabalho de contração do coração podem ser anestesiados. O bebum arrisca morrer.

Mas, o risco não vem apenas do consumo exagerado ocasional. Pode resultar também, do consumo repetitivo, como descreveremos a seguir.

Os riscos do alcoolismo e a medida do teor alcoólico no sangue.

A oxidação do álcool é capaz de produzir energia mas a energia produzida não pode ser armazenada para uso posterior. Em conseqüência de sua metabolização, também são produzidas moléculas redutoras que induzem a síntese de ácidos graxos. Esses ácidos graxos se acumulam e levam a um quadro de fígado gorduroso.

O consumo crônico de álcool pode causar danos hepáticos irreversíveis como a cirrose hepática. Sendo o fígado o órgão encarregado da destoxificação do corpo, tanto para substâncias exógenas como endógenas, a perda dessa função determina o acúmulo de hormônios esteroides e, como conseqüência, redistribuição de gorduras, ginecomastia, perda de massa muscular, diminuição da imunidade e baixa proteinemia. Tudo isso é má notícia para o alcoólatra. Outra conseqüência do consumo crônico de álcool é a gota, doença que se caracteriza pela inflamação das articulações provocada pelo acúmulo de ácido úrico, cuja excreção é inibida pelo etanol.

Embora haja vantagens em se usar o sangue para determinar as concentrações de álcool no corpo humano, o processo de coleta da amostra é visto como invasivo e doloroso, além de ser caro e lento. Os policiais do trânsito preferem, naturalmente, usar o “bafômetro”. A análise do ar da respiração profunda é utilizada com sucesso pois esse ar tem a mesma proporção de álcool encontrado no sangue.

Tudo bem, mas, não dizem que um copo de vinho tinto seco por dia afasta o perigo do enfarte?

Bem, esse é assunto para uma seção futura. Por enquanto, contenha-se.

Leia uma matéria sobre essa palestra do Prof. Marcus Vale publicada no JORNAL DA CIÊNCIA da SBPC.

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